segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

letra, som e riso

Enquanto o Outono não chega, deliciamo-nos com a música dos Vetiver (e o seu último disco Tight Knit), a estética nipónica de Kawabata (com Kyoto) e a ironia requintada de Woody, cujo excerto abaixo, extraído do hilariante Para acabar de vez com a cultura, tem dado o mote perfeito para os atrasados dias solarengos.

Depois da invasão dos Aliados, Hitler começou a ficar com o cabelo seco e eriçado. Isto era devido, quer ao êxito dos Aliados, quer ao conselho de Goebbels, que lhe dissera para o lavar todos os dias. Quando o general Guderian soube deste facto, imediatamente se deslocou da frente russa e disse ao Fuhrer que só devia lavar o cabelo, no máximo, três vezes por semana. Este era o procedimento seguido com grande sucesso pelo Estado-Maior nas duas últimas guerras. Hitler uma vez mais ultrapassou os seus generais e continuou a lavá-lo diariamente. Bormann ajudava Hitler nas lavagens e parecia estar sempre presente com um pente na mão. Deste modo, Hitler tornou-se dependente de Bormann e antes de se ver ao espelho queria sempre que Bormann o fizesse antes dele. Conforme os exércitos aliados avançavam a leste, o cabelo de Hitler piorava. Seco e desgrenhado, muitas vezes bramava durante horas sobre o belo corte de cabelo e barba que faria quando a Alemanha ganhasse a guerra e talvez mesmo uma engraxadela. Hoje compreendo que, de facto, nunca teve a intenção de o fazer.


As Memórias de Schmeed

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

a filha de neptuno

And laughing like a little girl
She enters an enchanted world
Where seaweed girls with silver tails
Play games upon the backs of whales

The Divine Comedy

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

The First Days of Spring


Não, não estamos no alvor da Primavera. Mas quem disse que o Outono não pode ser também tempo de renascimento? A apologia dos benfazejos e merecidos retornos, numa obra-prima orquestral de Noah and the Whale.

It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before

For I'm still here hoping that one day you may come back
.



The First Days Of Spring - Noah And The Whale


Love of an Orchestra - Noah and the Whale


Blue Skies - Noah And The Whale

domingo, 16 de agosto de 2009

a boneca

Julieta está sentada no chão da sala e tem uma boneca (nua) nas mãos. Afasta-lhe as pernas e dá-lhe um beijo na zona rosa e neutra de plástico.
Depois veste-lhe um vestido longo. Pega em fios de lã e mete-os debaixo do vestido, na zona da barriga. Uma boneca grávida.
A infância das meninas termina aos 50, no mínimo - pensa Romeu.

Gonçalo M. Tavares

sábado, 15 de agosto de 2009

'Au lit'





Toulouse Lautrec

terça-feira, 11 de agosto de 2009

No Deachunter


No Age, Dan Deacon e Deerhunter. Tudo ao mesmo tempo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Linha do Tua, anos 70

Para os que se interessam por filmagens a Super 8; para os que acham que nasceram na década errada; para os que se perdem em viagens de comboio; para os que gostam de beber vinho muito lentamente; para quem vive na portugalidade; e para as pessoas do norte:


NOTA: se a música inicial vos irritar, experimentem ouvir Carlos Paredes, ou Strauss.

domingo, 19 de julho de 2009

Verão em modo 'Actor'


St. Vincent - Actor

sexta-feira, 10 de julho de 2009

o meu boato

Meu amor, eu volto já
Vou por aí, vou ver o mar
Ouvir o canto da sereia
E duvidar, vou duvidar,
Do céu, do sol, do chão, do ar,
Vou-me afundar
na ferida escura e esquiva
que me tem
Cativo,
Imóvel,
Sem solução
Meu amor, se eu naufragar
Se me perder no teu olhar
Desaparecer sob o luar
Me consumir de bar em bar
Na bruma bêbada de um cais
Gritar que quero mais que a vida
E mais e mais e mais
Perdoa
Perdi-me
Na confusão

Se porém eu me encontrar
Talvez o mar se acalme no meu peito
E eu possa pôr os pés no chão e respirar
E abraçar a solidão
E ocupar o meu lugar
Na vasta e tensa imensidão
E então voltar
E, se, tu ainda me quiseres
Meu amor, se desejares
Dou-te tudo o que sobrar
De mim.

JP Simões - Boato

quarta-feira, 8 de julho de 2009

silly season

Take advantage of the season
to take off your overcoat
The spirits will lift off those young men you provoke
but I'll be laughing, knowing I will take you home



terça-feira, 30 de junho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009

limbo

'Then wear the gold hat, if that will move her;
If you can bounce high, bounce for her too,
Till she cry 'Lover, gold-hatted, high-bouncing lover,
I must have you!'

Thomas Parke D'Invilliers

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Do que é feito o Verão


Em tempo de Verão como este e após uma época demasiado conturbada para sucumbir às fúteis e mesquinhas preocupações do quotidiano estival, sabe-nos a ouro o novo Bitte Orca. Se já Rise Above nos provarara que os Dirty Projectors tinham muito a revelar, desvelando as idiossincrasias da pop mais alternativa, Bitte Orca é um todo perfeito de canções belamente trabalhadas, com momentos de absoluto deleite orquestral, como em 'Stillness is the move' ou 'Two Doves'. São uns Dirty Projectors menos herméticos, mas ainda assim tão iguais a si mesmos, ora não o provasse a bizarra voz de Dave Longstreth e a montanha russa que é Useful Chamber, boa amostra daquilo que se faz no psicadelismo experimental da lo-fi norte-americana.


Faça-se o Verão. E tomemos banhos de Sol ao som de Bitte Orca.


segunda-feira, 8 de junho de 2009

eid ma clack shaw

Show me the way, show me the way, show me the way
To shake a memory.

sábado, 6 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

A propósito da égide científica


Obeliscos tecnológicos giram panopticamente enquanto neve envolve as botas, vento varre atordoamentos da memória, e a pedra nos faz chorar. Onde acaba a ciência, risivelmente... fica o debate aberto.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A égide científica

A superação da dicotomia ciências naturais/ciências sociais tende a revalorizar os estudos humanísticos. Mas esta revalorização não ocorrerá sem que as humanidades sejam, elas também, profundamente transformadas. O que há nelas de futuro é o terem resistido à superação sujeito/objecto e o terem preferido a compreensão do mundo à manipulação do mundo. Este núcleo genuíno foi, no entanto, envolvido num anel de preocupações mistificatórias (o esoterismo nefelibata e a erudição balofa). O ghetto a que as humanidades se remeteram foi em parte uma estratégia defensiva contra o assédio das ciências sociais, armadas do viés cientista triunfalmente brandido. Mas foi também o produto do esvaziamento que sofreram em face da ocupação do seu espaço pelo modelo cientista. Foi assim nos estudos históricos com a história quantitativa, nos estudos jurídicos com a ciência pura do direito e a dogmática jurídica, nos estudos filológicos, literários e linguísticos com o estruturalismo. Há que recuperar esse núcleo e pô-lo ao serviço de uma reflexão global sobre o mundo. A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador da progressiva fusão das ciências naturais e ciências sociais coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento.


Boaventura de Sousa Santos in Um discurso sobre as ciências

domingo, 17 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

pietà

(William Blake, Pietà, 1795)

Rogo. Mas a quem? Peço. Mas quem escuta? O eco vácuo esbate no quarto atormentado. E aqui perpetua. Recursivamente.

terça-feira, 21 de abril de 2009

bálsamo bucólico


Sometimes I wish we were an eagle - Bill Callahan

sexta-feira, 17 de abril de 2009

fénix

Após uma longa ausência, regresso aos meandros do mundo e, acreditem, da vida. Sem querer fazer deste post uma notícia chocante e demasiado pessoal, estive um mês hospitalizada e a recuperar (recuperação que ainda durará alguns meses) deste síndrome merdoso. Em cinco dias, deixei de andar. As pernas paralisaram completamente. Os braços parecem-me troncos. Perdi a sensibilidade nas pernas e, nas mãos, ela foi substituída por uma sensação constante de aspereza. Hoje regressei a casa, após um mês árduo em que me vi, inicialmente, piorar dia para dia, em que me vi obrigada a reconhecer que preciso d0s outros para o mais simples e básico dos movimentos, em que me aprendi presa num corpo quase inerte. Percebo agora muita da futilidade do quotidiano e, ainda assim, da falta que ela me faz. Houve uma noite, dessas imensas que tive em claro, em que só pensava nisto:

domingo, 15 de março de 2009

o fastio dos dias

Eles estão saturados. Eles estão a sufocar. Eles estão enfastiados. Eles estão a diluir-se. Eles estão fartos. Eles estão a culminar. Eles estão entediados. Eles estão a extravasar o limiar do suportável. Eles estão esgotados. Eles estão a fingir que nada sentem. Eles estão angustiados. Eles estão a morrer, mais, a cada dia. Eles estão tensos. Eles estão a consumir-se. Eles estão presos. Eles estão a conter-se. Eles estão enclausurados. Eles estão a pedir ajuda. Até quando, até quando vai a doença moer-vos?

sábado, 7 de março de 2009

drug


I am the drug that you've been waiting for
An urgent craving you cannot ignore
I am the fix that you come back for more
I am the drug

segunda-feira, 2 de março de 2009

o tripé do poço do bispo


E talvez, afinal, nem sequer me tivessem percebido, pois ladrara as minhas perguntas de uma maneira pouco perceptível.

Kafka, " investigações de um cão "

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

noble beast

Em repeat há mais de um mês, o novo disco de Andrew Bird é absolutamente uma adicção. A perfeição atinge os seus picos no tema de abertura Oh No, e nos ainda preâmbulares Fitz & Dizzyspells Effigy e Tenuousness, e enumerar estas faixas é já tarefa reducionista e ingrata. Uma agradável e sempre melhor surpresa.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

o que é a civilização?

'Isto ajudara Diotima a descobrir em si a conhecida doença do homem contemporâneo, a que se chama civilização. É uma condição frustrante, cheia de sabão, ondas hertzianas, a excessiva linguagem cifrada das matemáticas e da química, a economia política, a investigação experimental e a incapacidade de convivência simples mas elevada entre os homens. E também as relações da nobreza de espírito, que ela conhecia, com a nobreza social, que exigiam a Diotima grande prudência e, apesar de alguns êxitos, lhe traziam grandes decepções, pareciam-lhe cada vez mais características não de uma época de cultura mas de um tempo de mera civilização. A civilização era, assim, tudo o que o seu espírito se sentia incapaz de controlar.'

Robert Musil in O homem sem qualidades

inútil

Até a Delta corrobora com aquilo que digo, no que diz respeito a material inútil.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

díptico

As dubiedades inerentes à maior parte (senão totalidade) das situações com as quais nos cruzamos nem sempre é por nós encarada da melhor forma, especialmente porque perante duplos sentidos nos percebemos confusos, desconfortáveis ou a um pequeno passo daquilo que podia ser perfeito. Ora a verdade, porém, é que é nas duplas valências que a perfeição se revela e que aquilo que nos basta, basta por si mesmo. Na inteireza. Blonde Redhead, nos dois temas de que mais gosto, a dar o mote para o díptico.





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

caçador de veados

Deerhunter - Lux Frágil - 1 de Junho

Agora é que não pedimos mesmo mais nada.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

a propósito de "palavras"

- Não podemos escrever a nossa própria morte.
Foi o psiquiatra que me disse isto e eu estou de acordo com ele porque, quando estamos mortos, não podemos escrever. Mas, para mim, penso que posso escrever o que quiser, mesmo que seja impossível e mesmo que não seja verdade.
Em geral contento-me em escrever na minha cabeça. É mais fácil. Na cabeça, tudo se desenrola sem dificuldades. Mas, assim que escrevemos, os pensamentos transformam-se, deformam-se, e tudo se torna falso. Por causa das palavras.
Escrevo por todo o lado em passo. Escrevo a caminhar para o autocarro, no vestiário dos homens, defronte da máquina.
O aborrecido é que não escrevo o que deveria escrever, eu escrevo tudo e mais alguma coisa, coisas que ninguém pode compreender e que eu próprio não compreendo. À noite, quando copio o que escrevi na minha cabeça ao longo do dia, pergunto-me porque escrevi aquilo. Para quem e porque motivo.

de "Ontem", Agotha Kristof

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

palavra aberta

A palavra, enquanto encadeamento aparentemente aleatório de letras disperas, é o modo por excelência de organização do mundo. Não é sistema binário, puramente virtual, definido de uma vez para sempre, fiel a um só sentido. A palavra é plurívoca, aberta sempre ao não-dito, impregne de implicações, de temores, de seguranças, de fascínios, de delírios. Por isso mesmo, é sempre singular o momento da expressão, como que momento que se institui no espaço e no tempo, para o marcar de forma indelével. A expressão constitui-se acontecimento, tanto para aquele que diz, como para aquele que, recebendo, sofre o seu efeito e aceita a passagem do testemunho. A expressão instaura a retroacção, mas, sobretudo, a reciprocidade. É o momento do eu e do outro, do eu e do tu. A expressão é o acontecimento do nós.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Camera Obscura

O regresso, a 20 de Abril.


sábado, 7 de fevereiro de 2009

preludiar

Prelúdio - acto ou exercício preliminar, introdução; prólogo, preâmbulo; o que precede, o que anuncia; indício de uma coisa que vai acontecer.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

real

Falávamos hoje do Realismo enquanto entrecruzamento entre o cinema e a vida. Não mais a propósito podemos recordar isto:


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

revolver 2

O fervedouro das ruas tem algo de desagradável, algo contra o qual a natureza humana se rebela. Estas centenas de milhares de pessoas, de todas as classes e de todos os tipos que aí se entrecruzam e se comprimem, não são por acaso homens, com as mesmas qualidades e capacidades, e com o mesmo interesse de serem felizes? . . . E não obstante, ultrapassam-se uns aos outros, apressadamente, como se nada tivessem em comum, nada a fazer entre si; não obstante, a única convenção que os une, subentendida, é que cada um mantenha a direita ao andar pelas ruas, a fim de que as duas correntes da multidão, que andam em direções opostas, não se choquem; não obstante, a ninguém ocorre dignar-se dirigir aos outros, ainda que seja apenas um olhar. A indiferença brutal, a clausura insensível de cada um nos próprios interesses privados torna-se tanto mais repugnante e ofensiva quanto maior é o número de indivíduos que se aglomeram num espaço reduzido.
Walter Benjamin

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

revolver

Há dias em que tudo o que queremos é o afago da Isobel Campbell e do Mark Lanegan.

and after all, don't feel like nothing
like walking away
like a mouth full of rain
I'm holding on
'cause you're my revolver
and I dreamed of ending
and flying away




(Esta é a melhor versão disponível no You Tube, infelizmente sem o Lanegan).

sábado, 17 de janeiro de 2009

go to hell

Contrariamente à grande parte das pessoas, tenho algumas dificuldades em trabalhar sob pressão (sobretudo quando se trata de escrever/pensar/reproduzir ligações mentais mais ou menos manhosas). E pasmo-me com o meu ritmo de caracol de escrever uma média de uma página por cada 4 horas, o que, no somatório, dará qualquer coisa como umas assustadoras 12 horas para escrever uma recensão. A verdade é que, por mais intelectualmente aliciante que seja, já não posso ouvir falar de Benjamin, de Heidegger, de Kittler. Já não consigo dizer a palavra mediação e pensar em artes interactivas. Já pouco consigo pensar em algo de novo e questiono-me pela minha sanidade mental quando chego ao ponto de dizer que o corpo é sobretudo nó da corrente. Acho que fui sugada pelos media.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

I am an american aquarium drinker


Wilco - 31 de Maio - Coliseu dos Recreios

Obrigada, obrigada, obrigada!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

repeat animal

Merriweather Post Pavilion - Animal Collective

Arranca com um poderoso 'In the Flowers' (a lembrar-nos um Person Pitch em mood mais electrónico), que abre alas para um avassalador (e provavelmente o ponto alto do disco) 'My Girls'. O hype lo-fi electro pop continua em 'Summertime Clothes' e 'Daily Routine', com um 'Bluish' a anestesiar com um psicadelismo que nos embala. E aquela que à primeira audição se parece uma evitável sucessão de temas menos saborosos, desaparece e retoma o fulgor em 'Lion in a Coma' e 'Brother Sport', a fechar o albúm à El Guincho em amena cavaqueira com uns Ruby Suns (os discípulos da vanguarda animal) e a lançar o gosto para voltar à faixa inicial e ouvir Merriweather Post Pavilion vezes a fio.

Rendam-se, que isto é muito bom. Albúm do ano, já? Tenho medo de achar que sim.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

what about reading

Os seres humanos são animais conhecedores do facto de terem de morrer. Sabem que as suas vidas são modeladas tal como se modelam as histórias, com princípio, meio e fim, fim este inelutável. Penso que a leitura consiste, entre outras coisas, também em reconhecer e em encarar os sinais desse modelo. Lemos a vida tal como lemos os livros e a actividade da leitura é, de facto, uma questão de abrir caminho através de sinais e de textos a fim de entender com maior profundidade e clareza não só aquilo que neles descobrimos, mas também as nossas próprias situações, tanto na sua especificidade e historicidade como nas suas dimensões mais permanentes e inevitáveis.


Mesmo o mais feliz dos epílogos textuais não deixa de ser um fim, uma espécie de morte. Lemos, sabendo que são limitadas as nossas vidas de leitores desse texto particular e que, a cada palavra, mais nos aproximamos do final. Conquanto uma dada narrativa possa transmitir-nos a urgência de prosseguir até à respectiva conclusão, existe algo em nós que se rebela contra este impulso. Ansiamos por terminar uma história, conhecer-lhe o desenlace, sentir o deleite, a catarse ou seja o que for que nos aguarde no final, mas, ao mesmo tempo - e quanto mais prazer o livro nos proporcionar mais forte será tal sentimento - não desejamos que ela termine, queremos que prossiga para sempre. Os livros, porém, tal como as vidas, não continuam indefinidamente. É certo que se pode reler um livro, que se pode recomeçar, tal como Platão acreditava que as almas recomeçavam a viver; mas também é verdade que, tal como Heraclito porventura diria, a mesma pessoa nunca lê o mesmo livro duas vezes.


(...) Se um livro, uma história ou qualquer outro texto se assemelha a uma pequena vida, e se a leitura consome um tempo precioso dessa outra história que pensamos ser a nossa vida, então é preciso tirar o maior proveito possível da leitura, tal como tiramos partido da vida.


A leitura recorda-nos que todos os textos terminam numa página em branco e que aquilo que obtemos de cada texto é exactamente compensado por aquilo que damos. A capacidade, conhecimentos e entrega ao texto determinará para cada pessoa o género de experiência que aquele lhe proporciona. A aprendizagem da leitura de livros - ou de quadros ou de fitas cinematográficas - não se resume à mera aquisição da informação contida nos textos; é também aprender a ler e a escrever o texto da vida individual. Assim considerada, a leitura não constitui um mero exercício académico, mas uma maneira de se aceitar o facto de que a vida tem uma duração limitada e de que, seja qual for o deleite que colhamos dela, este terá de resultar da força do compromisso com que nos rodeia. Faremos bem em ler a vida com a mesma energia que pomos na aprendizagem da leitura de textos. Todas as pessoas passam por algumas experiências que dir-se-ão exigir mais do que uma dose superficial de entendimento.

Robert Scholes in Protocolos de Leitura

domingo, 4 de janeiro de 2009

you really gotta hold on me

É particularmente irritante quando andamos com uma música na cabeça e não nos lembramos de quem é/quem a interpreta. Hoje andei às voltas, e não cheguei lá sozinha.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

os 12 mais

Por descarga de consciência, aqui fica a retrospectiva do findo ano de 2008. São 12 os discos a marcar este ano.

1. Beach House - Devotion
2. Deerhunter - Microcastle
3. Portishead - Third
4. Vampire Weekend - Vampire Weekend
5. The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
6. TV on the Radio - Dear Science
7. Bon Iver - For Emma, Forever Ago
8. Hercules & Love Affair - Hercules & Love Affair
9. Gang Gang Dance - Saint Dymphna
10. Cut Copy - In Ghost Colours
11. High Places - High Places
12. Atlas Sound - Let the blind lead those who can see but cannot feel