domingo, 26 de outubro de 2008

to be an author 2

Paul Valéry escreveu, em 1928, palavras consideravelmente vanguardistas que, lidas à luz da contemporaneidade, fazem-nos reflectir no potentado estético que é a era do mp3. Ora vejam:

Pouvoir choisir le moment d'une jouissance, la pouvoir goûter quand elle est non seulement désirable par l'esprit, mais exigée et comme déjà ébauchée par l'âme et par l'être, c'est offrir les plus grandes chances aux intentions du compositeur, car c'est permettre à ses créatures de revivre dans un milieu vivant assez peu différent de celui de leur création. Le travail de l'artiste musicien, auteur ou virtuose, trouve dans la musique enregistrée la condition essentielle du rendement esthétique le plus haut.

A possibilidade de transportar música, de ouvirmos o que queremos, onde queremos, quando queremos, constitui uma restituição do deleite da própria criação, que até outrora só ao criador podia pertencer. Por outro lado, mais do que um desejo, há uma efectiva necessidade sensível e sensorial de ouvir (isto ou aquilo) num determinado momento, exigência essa que, quando saciada, produz, com efeito, um prazer estético no seu mais elevado grau. É uma possibilidade de transformação e de atribuição de sentido até ao mais fútil dos momentos:

Il sera merveilleusement doux de pouvoir changer à son gré une heure vide, une éternelle soirée, un dimanche infini, en prestiges, en tendresses, en mouvements spirituels.

Abençoado IPod, que já nos proporcionaste tantas destas aestesis.

sábado, 25 de outubro de 2008

to be an author

The passion of all writing was the poet's desire to 'describe' the hallucinated 'picture in your mind with all its vivid colors, the light and the shade', in order to strike the gentle reader like an electric shock.

E. Hoffmann

Fragmentos de Viagem




























Cine em revista

Numa semana voluntariamente algo alienada do 'mundo da rede', houve tempo e espaço suficientes para passar pelo Doc Lisboa e ver a sessão dupla de 'Tell About Love' e 'Red Race'. Sobre o primeiro, curta de uma jovem francesa, há a elogiar o toque humano e o olhar bipolar sobre o amor. Mas há sobretudo que falar da pequena obra documental que é 'Red Race'. Trabalho centrado na manipulação precoce de crianças chinesas para a ginástica (em que assistimos às atrocidades e torturas que fazem o quotidiano dos miúdos de 5,6 anos levados para as Academias Olímpicas), é-nos dada uma visão hiper-realista da China de hoje, gigante que se auto-conserva, doutrina e incute os princípios da rigidez, da firmeza e do esforço, não obstante as lágrimas e a destruição emocional que isso possa implicar. Tudo em prol da grandeza de um país, do orgulho de tirar uma fotografia com a bandeira, ou ganhar uma medalha, nem que seja numa parola e maníaca competição de desenhos num infantário. Mutilação psicológica. Em repeat.

Em parceria, por ora nas salas de cinema comercias, a mais recente produção de Oliver Stone, W., que no seu estilo peculiarmente mordaz, nos revela cruamente aquilo que já há muito percebemos de George W. Bush, mas que chega a tornar-se chocante quando retratado - o típico americano médio, menino mimado criado nas festanças de cerveja e que, um dia, voltando-se para Deus, se julga responsável por empreender uma missão de resgatação do mundo, coisa que nada mais é senão infantil vingança e disfarçada justiça. No fundo, discute as pseudo terminologias dos oponentes como se de um jogo de Scrabble se tratasse e decide e faz a guerra, parabenizando os que mutilados ficam para engrandecer a Nação. Império. Despudoradamente, é isto.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

profecy

profeta, do grego prophetes, pelo latim propheta, pessoa que prediz por inspiração divina, oráculo, vidente, adivinho, pessoa que faz conjecturas sobre o futuro.

É profeta aquele que diz que a metafísica é a realidade que não se quer confundir com ela própria e, por isso, está em movimento.


Mas é também profeta aquele que a realidade define como Soft Parade.


When I was back there in seminary school, there was a person there
Who put forth the proposition, that you can petition the lord with prayer
Petition the lord with prayer, petition the lord with prayer
You cannot petition the lord with prayer!
Can you give me sanctuary, I must find a place to hide, a place for me to hide
Can you find me soft asylum, I cant make it anymore, the man is at the door
Peppermint, miniskirts, chocolate candy, champion sax and a girl named sandy
Theres only four ways to get unraveled, one is to sleep and the other is travel, da da
One is a bandit up in the hills, one is to love your neighbor till
His wife gets home
Catacombs, nursery bones, winter women, growing stones
Carrying babies, to the river
Streets and shoes, avenues, leather riders
Selling news, the monk bought lunch
Ha ha, he bought a little, yes, he did, woo!
This is the best part of the trip, this is the trip, the best part
I really like, whatd he say? , yeah!, yeah, right!
Pretty good, huh, huh!, yeah, Im proud to be a part of this number
Successful hills are here to stay, everything must be this way
Gentle streets where people play, welcome to the soft parade
All our lives we sweat and save, building for a shallow grave
Must be something else we say, somehow to defend this place
Everything must be this way, everything must be this way, yeah
The soft parade has now begun, listen to the engines hum
People out to have some fun, a cobra on my left
Leopard on my right, yeah
The deer woman in a silk dress, girls with beads around their necks
Kiss the hunter of the green vest, who has wrestled before
With lions in the night
Out of sight!, the lights are getting brighter
The radio is moaning, calling to the dogs
There are still a few animals, left out in the yard
But its getting harder, to describe sailors, to the underfed
Tropic corridor, tropic treasure
What got us this far, to this mild equator?
We need someone or something new
Something else to get us through, yeah, cmon
Callin on the dogs, callin on the dogs
Oh, its gettin harder, callin on the dogs
Callin in the dogs, callin all the dogs, callin on the gods
You gotta meet me, too late, baby
Slay a few animals, at the crossroads, too late
All in the yard, but its gettin harder, by the crossroads
You gotta meet me, oh, were goin, were goin great
At the edge of town, tropic corridor, tropic treasure
Havin a good time, got to come along, what got us this far
To this mild equator? , outskirts of the city, you and i
We need someone new, somethin new, somethin else to get us through
Better bring your gun, better bring your gun
Tropic corridor, tropic treasure, were gonna ride and have some fun
When all else fails, we can whip the horses eyes
And make them sleep, and cry.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

the freaks 2

Pouco relevante, mas hoje estou no mood adolescente de fazer disto um diário. Por cá a brilhante saga de Brás Cubas terminou e consta que afinal terei companhia para a Aimee Mann.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Entrecampos, anos 50


Sim, é o mesmo sítio...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

the freaks

Falta menos de uma semana para o concerto da Aimee Mann e parece que vai ser o primeiro a que vou sózinha. É irónico. Durante algum tempo julguei que poderia ser eu a salvar os 'freaks who suspect they could never love anyone'. Hoje, numa conversa sobre a postura blasé e arrogante dos críticos e artistas, ouvi, "acho que vais ser assim daqui a uns anos". Não desdenhei. Afinal a freak sou eu.

domingo, 12 de outubro de 2008

Em repeat


Num ano musical marcado por grandes regressos e algumas pujantes emergências (em que poderíamos destacar Shearwater e Bon Iver, sobretudo), a sueca de 22 anos, Lykke Li, é nome que impreterivelmente marcará igualmente a vaga de hypes deste ano.

Associada a nomes como Peter, Bjorn & John, e florescendo nesse cada vez mais prolífero espaço que é o sueco, Lykke Li apresenta uma pop simples mas simultaneamente requintada, doseando uma electrónica, que chega a roçar o funk, com o mais etéreo lo-fi (que por momentos nos leva a recordar a sonoridade de uma Mariee Sioux, das vagas de um new weird america, em 'Hanging High' ou 'Can't get that trumpet out of my head') . Uma aparente dicotomia que os tema de abertura do albúm Youth Novel, 'Melodies & Desires' e 'Dance, Dance, Dance' dirimem à primeira audição. Linearidade volátil que se mantém uma constante ao longo do albúm, coadunando-se na perfeição com as palavras de Lykke, ora doces e inocentes (In my weakest moments I weep / 'Cause I like the way, tears fit my cheek em 'Let it Fall'), ora frias e rígidas (If you wanna complain, I'm not the complaint department em 'Complaint Department'). Uma interessante conjugação de bipolaridades sonoras e poéticas que em 'Little Bit' têm a melhor síntese da génese que é todo o Youth Novel.

Hands down, I'm too proud for love
But with eyes shut
It's you I'm thinking of

I think I'm a little bit
Little bit
A little bit in love with you
But only if you're a little bit
Little bit
Little bit in lalalala love with me


Passa por Lisboa a 4 de Dezembro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O momento oportuno

A beleza de Virgília chegara, é certo, a um alto grau de apuro, mas nós éramos substancialmente os mesmos, e eu, à minha parte, não me tornara mais bonito nem mais elegante. Quem me explicará a razão dessa diferença?

A razão não podia ser outra senão o momento oportuno. Não era oportuno o primeiro momento, porque, se nenhum de nós estava verde para o amor, ambos o estávamos para o nosso amor: distinção fundamental. Não há amor possível sem a oportunidade dos sujeitos. Esta explicação achei-a eu mesmo, dois anos depois do beijo.


Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Saudades Frias


" Cuidado com a tristeza. Ela é um vício. "
G. Flaubert

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A vida não parece tão estúpida quando se acorda após uma boa noite de sono, se entra no carro e começa a dar Justice, se vai à livraria habitual (daquelas cujo dono é um verdadeiro apaixonado por livros) e se vem com as Memórias Póstumas de Brás Cubas numa mão e um queque na outra.

domingo, 5 de outubro de 2008

A life in 7

A Maria lançou o desafio de revelarmos 7 das mais marcantes músicas da nossa amostra de existência. Tal como ela o disse, também não sou grande apologista destas actividades blogueiras, mas a verdade é que a melomania é capaz das maiores manifestações de desbravamento de intimidades. Como tal, e sem qualquer ordem de preferência, a minha escolha, aqui fica.


Os Joy Division são muito provavelmente das bandas em que melhor me revejo. Pelo intelectual negrume, pela tragédia, pelos esgares depressivos. New Dawn Fades é uma súmula de tudo isso.





Ele perguntou-lhe se estava pronta. Eles disseram que sim. A Tears for Affairs mostrou que não.




São a única banda da actualidade a quem presto (moderado) culto. Com a Wake Up percebi que queria destruir as falsas metafísicas.




'Vai ouvir The Smiths'. Até hoje isto me inebria, pela sua genialidade, I Know It's Over.




A Feist foi a minha primeira grande descoberta indie, ainda durante as estranhas idades da adolescência. E Gatekeeper soou precisamente assim.





Se não é uma das melhores músicas do final do século XX, então perdi a fé na Humanidade. Do aceitar a melancolia, I See a Darkness.




E aquele que possivelmente será um hino até aos meus 40 anos, Have You Seen Her Lately?

To survive


Miauuu II

Zé Cár - los! Zé! Zé Carlos!
Quem é o maior galhofeiro do pedaço? Zé Carlos!
Quem inventou a penincilina? Alexander Fleming!

Estúdio pequeno (com camera man's em casotas), caras conhecidas, bolachas 'No Pares', madalenas e água Penacova. E a nuca esbelta de Ricardo Araújo Pereira, que um dia será húmus, uma espécie de cocó.

sábado, 4 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Gossip

Deus é um boato. Ora não estivesse o humano inconformado com a sua finitude. Deus é um boato. A âncora da falsa esperança para uma vida parca de sentido. Deus é um boato. O sofrimento do nada mais ser senão ser como essência daqueles que com clareza vêem, e a arrogância dos outros para os crédulos. Deus é um boato. Daqueles que destróem vidas. Deus é um boato. Que constringe e compacta a mais pura das liberdades. Deus é um boato. Veneno. Deus é um boato. Deus é a invenção humana para a sede de imortalidade. A religião, o alimento dos fracos. Deus é um boato. O boato que ao Ocidente legou o pecado e o peso da culpa pela paixão. Deus é um boato. Anulador do desregramento salutar. Deus é um boato. Destruidor da consciência individualmente passível de criação. Deus é um boato. Injecção anestesiante da massa obediente de antolhos, quais bestas, domesticada para ver só o Bem e o Mal. Deus é um boato. Apologista de um amor forçado. Deus é um boato. Corre de boca em boca. Deus é um boato. Antigo. Deus é um boato. Ainda não lhes perdoei. O boato.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

dá-me 12

Hoje li no JL que uma investigadora polaca de Linguística Cognitiva fez uma tese de doutoramento na qual apresenta a elencagem dos termos mais usados em cerca de 254 fados, alegando estar aqui subjacente a génese da cultura portuguesa. Ora se veja, se não é verdade se nos não regemos por estas 12 palavras - amor, paixão, ternura, amargura, dor, mágoa, pena, saudade, tristeza, destino, fado, sorte.