quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

revolver 2

O fervedouro das ruas tem algo de desagradável, algo contra o qual a natureza humana se rebela. Estas centenas de milhares de pessoas, de todas as classes e de todos os tipos que aí se entrecruzam e se comprimem, não são por acaso homens, com as mesmas qualidades e capacidades, e com o mesmo interesse de serem felizes? . . . E não obstante, ultrapassam-se uns aos outros, apressadamente, como se nada tivessem em comum, nada a fazer entre si; não obstante, a única convenção que os une, subentendida, é que cada um mantenha a direita ao andar pelas ruas, a fim de que as duas correntes da multidão, que andam em direções opostas, não se choquem; não obstante, a ninguém ocorre dignar-se dirigir aos outros, ainda que seja apenas um olhar. A indiferença brutal, a clausura insensível de cada um nos próprios interesses privados torna-se tanto mais repugnante e ofensiva quanto maior é o número de indivíduos que se aglomeram num espaço reduzido.
Walter Benjamin

3 comentários:

Anónimo disse...

Isso é tão verdade! De onde é que este excerto foi retirado?


Cat

Maria disse...

De um texto chamado 'Sobre alguns temas em Baudelaire'.

Anónimo disse...

E é esse o nosso quotidiano... É a "indiferença brutal", de facto.