Entrei no autocarro, numa zona portuária, Lisboa oriental. à volta há silos, armazens, fábricas, arqueologia operária, caminhos-de-ferro. Está sol, luz, e calor, uma manhã agradável, em que as outras pessoas trabalham. Ele percorre a avenida larga, as placas metálicas da carroçaria tremem, a caixa automática acelera com rigidez, gemendo, lentamente, disparam válvulas pneumáticas. A avenida é ampla e tem poucos carros, anda-se rápido e não há paragens, o autocarro transporta responsavelmente os passageiros naquela hora improvável de uma quase hora-de-almoço. Improvável também é o que eu lá faço, provando rotinas que não me pertencem, sonolento, mal conseguindo percepcionar lucidamente os elementos daquelas deslocações, distraído, letargico e alucinado num contexto tão saudável. Passa uma lambreta de forma errática à frente, nem olho para ela. Ouve-se a caixa a arranhar, freio pneumático;
- Ainda ha bocado ficou um debaixo do 28, no Oriente - a expressão dele é a de quem diligentemente despacha o serviço para poder ir almoçar, fala para mim.
" ficou um debaixo do 28 " ; "ali, há bocado..."
Ao conforto do mundanismo daquela manhã FM junta-se o elemento da morte de alguém no asfalto urbano, acidente de carro e destroços e sangue misturado em oleo, motas da polícia. O cenário da manhã mundana fica mais real, os elementos tornam-se momentaneamente mais perceptiveis, luz é reflectida dos vidros e metais exteriores, reflexão leve e abstracta daquela composição. Momentos depois já se retomou a serenidade, e a situação parece rotineiramente agradável.
- Ainda ha bocado ficou um debaixo do 28, no Oriente - a expressão dele é a de quem diligentemente despacha o serviço para poder ir almoçar, fala para mim.
" ficou um debaixo do 28 " ; "ali, há bocado..."
Ao conforto do mundanismo daquela manhã FM junta-se o elemento da morte de alguém no asfalto urbano, acidente de carro e destroços e sangue misturado em oleo, motas da polícia. O cenário da manhã mundana fica mais real, os elementos tornam-se momentaneamente mais perceptiveis, luz é reflectida dos vidros e metais exteriores, reflexão leve e abstracta daquela composição. Momentos depois já se retomou a serenidade, e a situação parece rotineiramente agradável.
" Olhe, hoje está bom tempo! "
Ele tem razão, está uma manhã bastante agradável realmente.
5 comentários:
de que livro do lobo antunes é que é isto? :)
O Franciso tem jeito para encontrar parecenças, se este texto não é do Lobo Antunes imita bem. :)
(e sim, eu também gostei muito deste excerto. ;))
Se o fosse seria devidamente citado.
Os 'elogios' serão remetidos para o seu autor. Obrigada
hmmm
apoteotico
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