sábado, 27 de setembro de 2008

HP

Hoje pensei que os senhores da Hewlett Packard conseguem ser extremamente helénicos, ora não se lesse HP como agape, amor, em grego.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

smile

Uma das idiossincrasias mais fantásticas do jazz é a sua capacidade de, por melodias perfeitas, tratamudear (ou dizer com toda a minúcia das sílabas) as palavras de que todos temos carência de escutar e, não raras vezes, pudor de assumir. Lembro-me de aprender isso, primeiro com os instrumentais de Coltrane (esse espasmo inicial) e, mais tarde, sobretudo com Ella, de quem ainda hoje recebo sempre com semblante extasiado um Things are lookin' up.
Hoje, num final de tarde agradavelmente solarengo, cruzei-me, como se de um primeiro contacto se tratasse, com umas das singularidades maiores do jazz contemporâneo no que ao female vocal diz respeito, o mais belo albúm de Madeleine Peyroux, 'Half the Perfect World'. E palavras como as que a norte-americana declama em Smile não poderiam ter vindo em melhor altura - Smile, though your heart is aching, smile, even though is breaking, when there are clouds in the sky, you get by, if you smile trough your fear and sorrow, smile, and maybe tomorrow, you'll see the sun come shining through for you.
E, de facto, I'll find that life is still worthwhile.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ele bateu com suavidade, e, com um sorriso algo envergonhado, perguntou: "Obras da literatura mundial?". "Sim, sim". Pela primeira vez em três anos senti que estava a ter uma cadeira harvardiana. Horas mais tarde concluí, porém, que acho que já não sei escrever ficção.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Hoje vi um rapaz com uma t-shirt dos The Jacksons na faculdade. E pensei, grosseiramente, que o Durex não tinha sido suficientemente eficaz.

domingo, 21 de setembro de 2008

Correspondência para o Norte


" O Inverno passou há meses, está sol e calor sempre, e a realidade passou a ser a de um Porto árido e inóspito diluído da identidade que eu concebia, sobram as memórias quasi alucinadas do que era...e sobram claro os sítios e respectivas pessoas que permanecem invariavelmente da mutabilidade ambiental dos sítios. Lisboa, a minha cidade, e o sul, têm uma identidade completamente diferente. Cá está sempre calor e sol mesmo que não esteja, é uma espécie de terminal para onde flúi e estagna tudo, é o terminal das linhas de comboio, a decadência arqueológica industrial…um cenário muito gráfico da degradação emocional da melancolia, e uma pessoa instala-se na impessoalidade. Cá o ritual do café é mais uma deambulação que um aconchego, e quando sair aqui do PC, vou descer os 4 andares do meu prédio arte-decó à Estado Novo, andar por entre ruas com prédios monolíticos à Estado Novo, com o tecnocrata cigarro, e transitar indiferentemente depois para as mourarias e alfamas onde eléctricos amarelos dobram esquinas a chiar - definitivamente isto não é o Porto, o norte...lembram-se do «Degredo do Sul» ? "



tempo...





" tens de fazer as pazes com a tua cidade de luz branca. o porto é um novelo romântico, lúgubre mas doentio.... "

e novamente o tempo...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

do ser pequenino

Ouve-se mais uma notícia sobre a falência do americano Lehman Brothers à medida que de semblante carrancudo se mete mais uma colher de sopa na boca. "Ah ah, isto está muito mau. Isto vai voltar a ser como era aí há uns anos, com as taxas de juro a 15%". Nova colherada. Responde-se - "isto vai ser como em 29, aposto". "Espero que não, mas não me admiraria", é retorquido. Leva o copo à boca, e suspira, mais uma vez. O mundo está em colapso, mas o resto da noite passa-se a discutir a boa equipa do FC Porto, e o fracasso do Benfica.

are you experienced?

Have you ever been to Electric 'Jimy'land? The magic carpet waits for you so don't you be late


A propósito do 38º aniversário da morte de Jimy Hendrix, podem ver e ouvir 'Foxy Lady'

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

a minha alma foi sempre assim, um espaço oco

Lê-se na edição deste mês da revista Ler um brilhante texto de José Eduardo Agualusa, que, encarnando Pessoa, faz uma breve reflexão, em tom sempre metafísico e, não obstante, coloquial, sobre o pensar-sentir pessoano, nas suas possíveis e múltiplas tranversalidades. E se daqui inferimos a intemporalidade humanista patente nas palavras de P, deslumbramo-nos igualmente com a genialidade do autor d'O vendedor de passados.

Ah, o tédio de ser Pessoa. Fui-o por distração, é verdade, como as pedras no seu sossego de pedras, e a erva crescendo e sendo erva, e passarem pássaros neste límpido céu de Verão. Tentei ser muitos para escapar de ser nenhum, e não consegui.

Chama-se alma ao interior oco de uma arma de fogo, que vai da parte anterior da câmara da carga até à boca - ou seja, é por onde sai a bala. A minha alma foi sempre algo assim, um espaço oco por onde disparava os sentimentos com que atingia, ou tentava atingir, o coração dos outros.

Ninguém consegue tornar-se um bom cantor, um bom dançarino, um bom pintor, um bom amante enquanto não se esquece de que está cantando, dançando, pintando ou amando. Entregar-se implica esquecer-se de si. Eu nunca me entreguei por completo à vida. Pensei-a sempre, e pensar demais a vida é não a viver.

Talvez tudo isto lhe pareça contraditório e confuso, e ainda bem. É contraditório e confuso e além disso estou morto. Bastante morto. Não exija coerência a um morto. A um morto exige-se que se decomponha o mais depressa possível, ou seja, que se desorganize. Estar morto é render-se por fim à entropia, desistir. Ah, como sabe bem desistir! Ao longo da vida preparei-me muito para a morte. Fui um campeão em desistência. Comecei, bastante jovem, por desistir do amor e da aventura; desisti das mulheres e depois da humanidade inteira (que é o que acontece normalmente aos homens que desistem das mulheres); desisti do dinheiro e da glória; desisti de uma carreira, inclusive a literária. Quando por fim a morte me estendeu a mão foi já sem lastro, sem um pensamento a prender-me, que me deixei ir.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Antony veste Prada


Parece que está em voga no mundo da moda ter bom gosto musical. Depois da actuação de Chan Marshall na Chanel, Antony Hegarty (para muitos conhecido como a voz e a palavra dos Antony & The Johnsons) produz agora um tema excluivo (Fallen Shadows) para um desfile da Prada. A soar mais a Hercules & Love Affair, o cantor inglês volta a cair nas boas graças da elite.

Para ouvir aqui

Richard Wright
1943 - 2008
" wave uppon wave of demented avengers march cheerfully out of obscurity into the dream "

Ela sabia que esta era a decisão correcta. Pensara nisso durante os últimos meses de Verão, estranhamente confiante. Nunca fora de tomar uma decisão de ânimo leve, por isso, quando assumia as suas resoluções, raramente voltava atrás. Pesava os plus e os extras, discernia os handicaps com a clareza que lhe era característica. Sabia quase sempre o que queria fazer, e dizia-o. "Não, eu preciso de fazer isto." Mas claro que como todas as maiores ou mais pequenas mudanças, a hesitação e o medo tomavam conta de si, e ao ler Wallace naquela noite, nunca o pensara tão veraz - "embora houvesse qualidades à superfície, existiam também defeitos escondidos ou certas lacunas, disso não havia dúvida, especialmente quando se pensa em tal às três horas da madrugada". E ria-se com a ironia dos clássicos, com a acutilância dos mestres.
Sabia que tinha que o continuar a fazer. Não tinha mais nada. A mais pura das verdades humanas, mas a mais cruel das realidades. Por momentos pensou que não acreditar num deus, num homem, numa mulher, num político, num artista, e acreditar apenas que mais não pode ser que um mosaico metafisicamente talhado, não era assim tão fácil de levar.

domingo, 14 de setembro de 2008


As soon as your born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all

They hurt you at home and they hit you at school
They hate you if you're clever and despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules

When they've tortured and scared you for 20 odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear

Keep you doped with religon, sex and T.V.
And you think you're so clever and classless and free
But you're still fucking peasents as far as I can see

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

América Bucólica

'Hillbilly Hollyday' para os amigos; dizia-se de Karen Dalton ter a voz de Billie. Para Dylan, a melhor do country folk.

'It Hurts Me Too'
It's So Hard To Know How's Going To Love You The Best (1969)


Entrei no autocarro, numa zona portuária, Lisboa oriental. à volta há silos, armazens, fábricas, arqueologia operária, caminhos-de-ferro. Está sol, luz, e calor, uma manhã agradável, em que as outras pessoas trabalham. Ele percorre a avenida larga, as placas metálicas da carroçaria tremem, a caixa automática acelera com rigidez, gemendo, lentamente, disparam válvulas pneumáticas. A avenida é ampla e tem poucos carros, anda-se rápido e não há paragens, o autocarro transporta responsavelmente os passageiros naquela hora improvável de uma quase hora-de-almoço. Improvável também é o que eu lá faço, provando rotinas que não me pertencem, sonolento, mal conseguindo percepcionar lucidamente os elementos daquelas deslocações, distraído, letargico e alucinado num contexto tão saudável. Passa uma lambreta de forma errática à frente, nem olho para ela. Ouve-se a caixa a arranhar, freio pneumático;

- Ainda ha bocado ficou um debaixo do 28, no Oriente - a expressão dele é a de quem diligentemente despacha o serviço para poder ir almoçar, fala para mim.

" ficou um debaixo do 28 " ; "ali, há bocado..."

Ao conforto do mundanismo daquela manhã FM junta-se o elemento da morte de alguém no asfalto urbano, acidente de carro e destroços e sangue misturado em oleo, motas da polícia. O cenário da manhã mundana fica mais real, os elementos tornam-se momentaneamente mais perceptiveis, luz é reflectida dos vidros e metais exteriores, reflexão leve e abstracta daquela composição. Momentos depois já se retomou a serenidade, e a situação parece rotineiramente agradável.
" Olhe, hoje está bom tempo! "
Ele tem razão, está uma manhã bastante agradável realmente.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A casa da praia

A melhor coisa que me aconteceu este ano. Apetece-me dizer palavrões de alegria. Por causa deles.



Beach House
16 de Novembro
Cabaret Maxime

Que se lixem os Sigur Rós e a Joan. Sorry. Amores não se discutem.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

No, I know i'm not in danger

Já dizia o Kramer, 'Look at me and tell me that I'm not Kramer!'.
Um cover de Melanie Safka por Bonnie 'Prince Billy' e Tortoise que consta aqui:

The Brave And The Bold (2006)

Some say I got devil
Some say I got angel
But I'm just a girl in trouble
I don't think I'm in danger
Don't think I'm in danger
No, I know I'm not in danger
But some have tried to sell me
All kinds of things to save me
From hurting like a woman, and crying like a baby
Something like a woman, crying like a baby

And all the things that I have seen
Qualify me for a part in your dream
Qualify me for this dream

And though I'd like to tell it
Exactly how I feel it
Somehow the music
Hides it and conceals it
Hides it and conceals it
Oh, it hides

And all the things that I have seen
Can be hidden in a part of my dream
Gonna hide it in my dream

Some say I've got devil
Some say I got angel
But I'm just this girl in trouble
I don't think I'm in danger
No I'm not in danger
No, I know I'm not in danger.
(Some Say) I Got Devil - Tortoise & Bonnie Prince Billy

domingo, 7 de setembro de 2008

mad british

Hoje, dois petits moments de humor com:

Commercial Breakdown

Commercial Breakdown é um dos programas mais bem sucedidos da BBC. No ar há mais de 15 anos na televisão britânica, reúne os mais cómicos, estúpidos e sarcasticamente desgraçados spots publicitários de todo o mundo. Com Jaspers Carrotts.


Miss Swan

Interpretada por Alex Borstein, a personagem Miss Swan, do programa MadTV, é das caricaturas mais amorosas e estúpidas do humor britânico. Uma mulherzinha orgulhosamente tola e provocadora. Ora vejam.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

La ballade of lady and bird

Lady:
Bird...I cannot see a thing.

Bird:
It's all in your mind.


Lady & Bird (Keren Ann e Bardi Johansson)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

debruçando-se da escarpa falésia

Há dias em que tudo o que vejo me parece pleno de significados: mensagens que me seria difícil comunicar a outros, definir, traduzir por palavras, mas que precisamente por isso se me apresentam como decisivas. São anúncios ou presságios que me dizem respeito a mim mesmo e ao mundo ao mesmo tempo: e de mim, não os acontecimentos exteriores da existência mas o que acontece cá dentro, no fundo; e do mundo não um facto singular qualquer mas o modo de ser geral de tudo. Compreendem pois a minha dificuldade em falar disto, a não ser por alusões.

Italo Calvino in Se numa noite de Inverno um viajante


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

olha o jacto!

Muitas vezes as mulheres fazem coisas estúpidas e estranhas. Acho que a mais hilariante que vi até hoje foi esta, envolvendo soutiens de água. De umas das melhores séries de sempre, Will & Grace.


aufiderzin

São 01:07 da manhã, como num outro qualquer dia de Setembro. Hoje, apetece-me ser nostalgicamente lamechas. Os amigos preparam-se para partir. Paris, Madrid, Dortmund, são os novos destinos de alguns. Para outros, o destino é a nova carreira, já fora do ocioso clã universitário da esplanada amarela e dos improvisados assentos de pedra, esse clã que só pensa em conversar, em pensar, em ouvir, em ler, em cantar, em dançar. Tudo e mais alguma coisa. E hoje, ao som do Let It Be, depois de algumas contidas despedidas e de palavras de consolo, confesso que as emoções fervilham e que as saudades e o medo se apoderam. Mas mais uma vez percebo que não trocaria esta saudade já de tudo isto por nada.