quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

(Des)Construção




A futilidade da vida. O carácter vão do existir, por Chico Buarque. Arrepia.



Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.

Por esse pão prá comer
Por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer
E a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague...

Pela cachaça de graça
Que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça
Que a gente tem que tossir
Pelo andaimes pingentes
Que a gente tem que cair
Deus lhe pague...

Pela mulher carpideira
Prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bixeiras
A nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira
Que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague...

8 comentários:

Francisco disse...

o álbum construção é a única coisa que conheço dele

Maria disse...

É o grande albúm. Tenho alguma afecção infantil pelo "Olha Maria", pelo nome. É prosaico, mas é verdade.

Sugestão - Ouve a "Tatuagem". A música é belíssima.

Francisco disse...

reparei que puseste o estado civil agora ali, não conhecias? É o melhor blog de sempre. (sem margem para dúvidas)

Anónimo disse...

Claro que conhecia LOL. Ainda estou é a tratar da formatação aqui do blog, daí o ir pondo coisas aos poucos.

Francisco disse...

uff :)

joão moço dos recados disse...

não há palavras que definam o amor que eu sinto pela música e pelas palavras do chico. ele é um deus, muito provavelmente, O único.

Maria del Sol disse...

Tive este álbum em "repeat" há poucas semanas. É maravilhoso. Se tivesse que escolher uma canção talvez a minha preferência vá para "Cotidiano". Apesar de ter um quê de misógina, gosto daquela imagem da vida em casal.

Gostei do teu blog, e, tendo visto pelo arquivo que estás nestas lides há pouco tempo, dou-te as boas vindas :)

Maria disse...

Obrigada :)