Hoje apercebi-me de que as gaivotas vão deixar de existir e tive pena. Lembrei-me do que tinha lido dias antes, em Fahrenheit 451 de Ray Bradbury.
Visão não apocalíptica, mas assustadoramente realista e provável. Aqui fica.
"Qual é o programa desta tarde? - perguntou ele, indiferente.
Mildred ergueu os olhos do texto.
- É uma peça que vai aparecer dentro de dez minutos, no ecrã múltiplo. Enviaram-me o meu papel pelo correio desta manhã. Escrevem a peça com um papel vago. É uma nova ideia. O espectador, neste caso eu, representa o papel que falta. No momento em que chega a minha réplica, eles olham-me todos, das três paredes, e eu recito-a. Por exemplo, aqui, o homem diz: "Que pensa da minha posição, Helen?" Então olha para mim, sentada no meio da cena, estás a ver? E eu respondo, eu respondo... - parou e sublinhou com a unha uma linha do texto. - "Parece-me perfeita". Depois a peça continua até que o tipo diga: "Estás de acordo, Helen?" E eu respondo "Absolutamente". Não achas engraçado, Guy?
De pé, no corredor, ele olhou-a.
- Eu acho isto divertidíssimo - disse ela."
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