quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Prosa cinematográfica


É o cinema uma arte? A arte existe? Se existe, o cinema será então, também, arte, na medida em que todo o cinema interpreta uma realidade, ou um sonho, uma acção concreta, ou um voo da imaginação.

O cinema é, pode dizer-se, uma síntese de todas as artes, e os seus realizadores imprimem, através da sua imaginação, imagens e sons com que constróem os seus próprios filmes, fazendo-se eles, do cinema, seus autênticos criadores.

Temos visto passar nos ecrãs toda uma variedade infinda de histórias, de técnicas, ou de processos. Mas eles surgem de cada vez - num cinema criativo, claro está - sob uma forma sempre nova.

Por isso, o cinema, como o teatro, a literatura, a pintura ou a música - elementos da síntese cinematográfica - é altamente dinâmico e a sua fisionomia transforma-se ao impulso do seu realizador, senão também às coordenadas da época.

Direi que, o teatro e o cinema serão sempre presentes pela necessidade do homem recriar a vida e de fixar-lhe a memória.

Eis que a velha guarda vos passa o testemunho. O futuro do cinema está nas vossas mãos. Confiai em vós e na vossa autenticidade. Não vos deixeis iludir por um público de multidão, tantas vezes enganador.

Sejamos sinceros connosco próprios, pois não haverá maneira mais nobre de amarmos o público.

E preservemos juntos o sortilégio de um ecrã mágico no fundo de uma sala escura onde olhos e ouvidos repousam atentos.

Manoel de Oliveira
Discurso proferido na entrega dos cartazes aos realizadores do futuro no Festival de Roterdão, 1988