O grito da cigarra ergue a tarde a seu cimo e o perfume do orégão invade a felicidade. Perdi a minha memória da morte da lacuna da perda do desastre. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto me recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o líirio da pequena praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia - e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho. Imagina.
É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo.
É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo.
Sophia de Mello Breyner Andresen, ao som de Carlos Paredes.
4 comentários:
essa música é imensa.
(e esgalhado é uma palavra feia)
Cada vez que oiço o Charles Walls até se me arrepiam os coisos.
Lê-se, no editorial da Blitz deste mês, que "estivesse este mundo mais globalizado" e a referência a Carlos Paredes estaria muito mais a par da de Jimi Hendrix.
Cá por mim, que se lixe a globalização; da minha parte, o legado de Carlos Paredes nunca subsistiu nem subsistirá na sombra de outrém.
Ainda hoje estive a ouvir o "Movimentos Perpétuos", aproveitando a deixa da Radar da semana passada. É maravilhoso.
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