sábado, 1 de março de 2008

Loneliness is my social skill


Solidão. Isolamento. Vazio. Depressão. Esta semana estas palavras não me sairam da cabeça. Palavras densas, suicidas, demasiado abusivas e sofridas, a roçar o drama adolescente diriam alguns. Cliché. A verdade é que estas palavras não me largaram porque me cruzei com uma das mais belas obras de Edward Hopper numa destas noites de ócio estóico. A pintura leva o nome de Autómata e data de 1927. Curioso e certeiro título para uma pintura em que vemos uma jovem rapariga a tomar um chá ou café sozinha. Na legenda li o seguinte: "As telas de Edward Hopper, autênticas introspecções da alma humana, converteram-no no pintor da desolação e da incomunicação das sociedades urbanas".

Curioso como no dia seguinte, numa discussão sobre a formação dos públicos nas sociedades modernas, a rapariga autómata de Hooper me surge como a tradução material (e quantas Autómatas já não vimos nós, ou não o somos nós, tantas e tantas vezes?) destas noções de público e de novos pólos sociais de agregação - um grupo de indivíduos, não sujeitos ao imperativo da presencialidade, e que, não obstante, entre si criam laços de cunho espiritual, de uma certa "excitabilidade intelectual", pela partilha de interesses. Pois bem, é o estar só, não estando. As Autómatas solitárias, efectivamente nunca estão sós.

Contudo, isto levou-me para uma avalanche de outras questões. Não estamos intelectualmente sós, mas ser-nos-á isso suficiente? Por que raio então, apesar de sabermos isto, nos sentimos calvaricamete tão sózinhos, sempre incompletos, lacunares e com "handicaps" emocionais? A sabedoria popular sempre nos ensinou "Mais vale só, que mal acompanhado". E quando nós mesmos somos a má companhia? Marguerite Yourcenar disse que "nunca se está completamente só" e que "para nossa desgraça, estamos sempre com nós mesmos".

Resposta para isto hoje não tenho. Só sei que a minha desgraça é a minha social skill.

7 comentários:

Francisco disse...

a solidão, a solidão...

Anónimo disse...

Também penso que, por vezes, seria bom estar verdadeiramente a sós, sem o eu, mas depois caio do cavalo. (lol?!)

Maria disse...

E eu da égua...

Anónimo disse...

"...Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma!", Chico Buarque

Maria disse...

:')

Anónimo disse...

Essa imagem de Violent Femmes é muito gira! :)

gr alt disse...

"excitabilidade intelectual" - lá tas tu... sempre a falar de mim? XD