segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

real

Falávamos hoje do Realismo enquanto entrecruzamento entre o cinema e a vida. Não mais a propósito podemos recordar isto:


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

revolver 2

O fervedouro das ruas tem algo de desagradável, algo contra o qual a natureza humana se rebela. Estas centenas de milhares de pessoas, de todas as classes e de todos os tipos que aí se entrecruzam e se comprimem, não são por acaso homens, com as mesmas qualidades e capacidades, e com o mesmo interesse de serem felizes? . . . E não obstante, ultrapassam-se uns aos outros, apressadamente, como se nada tivessem em comum, nada a fazer entre si; não obstante, a única convenção que os une, subentendida, é que cada um mantenha a direita ao andar pelas ruas, a fim de que as duas correntes da multidão, que andam em direções opostas, não se choquem; não obstante, a ninguém ocorre dignar-se dirigir aos outros, ainda que seja apenas um olhar. A indiferença brutal, a clausura insensível de cada um nos próprios interesses privados torna-se tanto mais repugnante e ofensiva quanto maior é o número de indivíduos que se aglomeram num espaço reduzido.
Walter Benjamin

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

revolver

Há dias em que tudo o que queremos é o afago da Isobel Campbell e do Mark Lanegan.

and after all, don't feel like nothing
like walking away
like a mouth full of rain
I'm holding on
'cause you're my revolver
and I dreamed of ending
and flying away




(Esta é a melhor versão disponível no You Tube, infelizmente sem o Lanegan).

sábado, 17 de janeiro de 2009

go to hell

Contrariamente à grande parte das pessoas, tenho algumas dificuldades em trabalhar sob pressão (sobretudo quando se trata de escrever/pensar/reproduzir ligações mentais mais ou menos manhosas). E pasmo-me com o meu ritmo de caracol de escrever uma média de uma página por cada 4 horas, o que, no somatório, dará qualquer coisa como umas assustadoras 12 horas para escrever uma recensão. A verdade é que, por mais intelectualmente aliciante que seja, já não posso ouvir falar de Benjamin, de Heidegger, de Kittler. Já não consigo dizer a palavra mediação e pensar em artes interactivas. Já pouco consigo pensar em algo de novo e questiono-me pela minha sanidade mental quando chego ao ponto de dizer que o corpo é sobretudo nó da corrente. Acho que fui sugada pelos media.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

I am an american aquarium drinker


Wilco - 31 de Maio - Coliseu dos Recreios

Obrigada, obrigada, obrigada!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

repeat animal

Merriweather Post Pavilion - Animal Collective

Arranca com um poderoso 'In the Flowers' (a lembrar-nos um Person Pitch em mood mais electrónico), que abre alas para um avassalador (e provavelmente o ponto alto do disco) 'My Girls'. O hype lo-fi electro pop continua em 'Summertime Clothes' e 'Daily Routine', com um 'Bluish' a anestesiar com um psicadelismo que nos embala. E aquela que à primeira audição se parece uma evitável sucessão de temas menos saborosos, desaparece e retoma o fulgor em 'Lion in a Coma' e 'Brother Sport', a fechar o albúm à El Guincho em amena cavaqueira com uns Ruby Suns (os discípulos da vanguarda animal) e a lançar o gosto para voltar à faixa inicial e ouvir Merriweather Post Pavilion vezes a fio.

Rendam-se, que isto é muito bom. Albúm do ano, já? Tenho medo de achar que sim.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

what about reading

Os seres humanos são animais conhecedores do facto de terem de morrer. Sabem que as suas vidas são modeladas tal como se modelam as histórias, com princípio, meio e fim, fim este inelutável. Penso que a leitura consiste, entre outras coisas, também em reconhecer e em encarar os sinais desse modelo. Lemos a vida tal como lemos os livros e a actividade da leitura é, de facto, uma questão de abrir caminho através de sinais e de textos a fim de entender com maior profundidade e clareza não só aquilo que neles descobrimos, mas também as nossas próprias situações, tanto na sua especificidade e historicidade como nas suas dimensões mais permanentes e inevitáveis.


Mesmo o mais feliz dos epílogos textuais não deixa de ser um fim, uma espécie de morte. Lemos, sabendo que são limitadas as nossas vidas de leitores desse texto particular e que, a cada palavra, mais nos aproximamos do final. Conquanto uma dada narrativa possa transmitir-nos a urgência de prosseguir até à respectiva conclusão, existe algo em nós que se rebela contra este impulso. Ansiamos por terminar uma história, conhecer-lhe o desenlace, sentir o deleite, a catarse ou seja o que for que nos aguarde no final, mas, ao mesmo tempo - e quanto mais prazer o livro nos proporcionar mais forte será tal sentimento - não desejamos que ela termine, queremos que prossiga para sempre. Os livros, porém, tal como as vidas, não continuam indefinidamente. É certo que se pode reler um livro, que se pode recomeçar, tal como Platão acreditava que as almas recomeçavam a viver; mas também é verdade que, tal como Heraclito porventura diria, a mesma pessoa nunca lê o mesmo livro duas vezes.


(...) Se um livro, uma história ou qualquer outro texto se assemelha a uma pequena vida, e se a leitura consome um tempo precioso dessa outra história que pensamos ser a nossa vida, então é preciso tirar o maior proveito possível da leitura, tal como tiramos partido da vida.


A leitura recorda-nos que todos os textos terminam numa página em branco e que aquilo que obtemos de cada texto é exactamente compensado por aquilo que damos. A capacidade, conhecimentos e entrega ao texto determinará para cada pessoa o género de experiência que aquele lhe proporciona. A aprendizagem da leitura de livros - ou de quadros ou de fitas cinematográficas - não se resume à mera aquisição da informação contida nos textos; é também aprender a ler e a escrever o texto da vida individual. Assim considerada, a leitura não constitui um mero exercício académico, mas uma maneira de se aceitar o facto de que a vida tem uma duração limitada e de que, seja qual for o deleite que colhamos dela, este terá de resultar da força do compromisso com que nos rodeia. Faremos bem em ler a vida com a mesma energia que pomos na aprendizagem da leitura de textos. Todas as pessoas passam por algumas experiências que dir-se-ão exigir mais do que uma dose superficial de entendimento.

Robert Scholes in Protocolos de Leitura

domingo, 4 de janeiro de 2009

you really gotta hold on me

É particularmente irritante quando andamos com uma música na cabeça e não nos lembramos de quem é/quem a interpreta. Hoje andei às voltas, e não cheguei lá sozinha.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

os 12 mais

Por descarga de consciência, aqui fica a retrospectiva do findo ano de 2008. São 12 os discos a marcar este ano.

1. Beach House - Devotion
2. Deerhunter - Microcastle
3. Portishead - Third
4. Vampire Weekend - Vampire Weekend
5. The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
6. TV on the Radio - Dear Science
7. Bon Iver - For Emma, Forever Ago
8. Hercules & Love Affair - Hercules & Love Affair
9. Gang Gang Dance - Saint Dymphna
10. Cut Copy - In Ghost Colours
11. High Places - High Places
12. Atlas Sound - Let the blind lead those who can see but cannot feel