sábado, 25 de outubro de 2008

Cine em revista

Numa semana voluntariamente algo alienada do 'mundo da rede', houve tempo e espaço suficientes para passar pelo Doc Lisboa e ver a sessão dupla de 'Tell About Love' e 'Red Race'. Sobre o primeiro, curta de uma jovem francesa, há a elogiar o toque humano e o olhar bipolar sobre o amor. Mas há sobretudo que falar da pequena obra documental que é 'Red Race'. Trabalho centrado na manipulação precoce de crianças chinesas para a ginástica (em que assistimos às atrocidades e torturas que fazem o quotidiano dos miúdos de 5,6 anos levados para as Academias Olímpicas), é-nos dada uma visão hiper-realista da China de hoje, gigante que se auto-conserva, doutrina e incute os princípios da rigidez, da firmeza e do esforço, não obstante as lágrimas e a destruição emocional que isso possa implicar. Tudo em prol da grandeza de um país, do orgulho de tirar uma fotografia com a bandeira, ou ganhar uma medalha, nem que seja numa parola e maníaca competição de desenhos num infantário. Mutilação psicológica. Em repeat.

Em parceria, por ora nas salas de cinema comercias, a mais recente produção de Oliver Stone, W., que no seu estilo peculiarmente mordaz, nos revela cruamente aquilo que já há muito percebemos de George W. Bush, mas que chega a tornar-se chocante quando retratado - o típico americano médio, menino mimado criado nas festanças de cerveja e que, um dia, voltando-se para Deus, se julga responsável por empreender uma missão de resgatação do mundo, coisa que nada mais é senão infantil vingança e disfarçada justiça. No fundo, discute as pseudo terminologias dos oponentes como se de um jogo de Scrabble se tratasse e decide e faz a guerra, parabenizando os que mutilados ficam para engrandecer a Nação. Império. Despudoradamente, é isto.

1 comentário:

Maria del Sol disse...

"Red Race" estava na minha lista de documentários a não perder no Doc deste ano, mas o tempo não deu para ver mais do que aquele que abordei no meu blog.
É mesmo importante que as imagens cheguem a uma audiência tão vasta quanto possível, para nos abrir os olhos.
Por muitos artigos que se leiam ou noticiários que se vejam, nada é comparável ao impacto das imagens do dia-a-dia dessas crianças (e eu vi apenas os teasers televisivos e do youtube), cujas vidas foram manipuladas em nome dum gigante antropofágico chamado China. Não sei o que é mais assustador, se o facto dele se tornar cada vez mais forte, se o da população do resto do mundo não se dar ao trabalho de lhe apontar o dedo como deve de ser. :S