sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Estranho era aquele estado
De permanenete ser opáco,
Naquela manhã de Novembro.
No intercalar de passos, correndo,
O fulgor do vento sussurrava baixinho
‘Vai depressa que Ela está atrás de ti.’
Fugir como ladrão,
De taberna de terceira do bairro
Soubera eu que o que mais queria
Era ser apanhado.
O ar cortante como vidros estilhaçados
Flagelava a face já dorida
Empedernida, vazia de querer
E paulatinamente
Parava, naquele banco de rua, como tantas outras vezes
Mas agora sem reveses.
E via-a, soturna
Melancolicamente calma, olhando.
Não era negra, como a chamavam
Diz-se que depende de quem a contempla
Pois que se triste, mais me parecia terna.
E a paz... Aquele não doer e remoer
Ali estava imóvel, como que pacientemente
À espera do quando
Desse quando de que cobardemente fugia
Mas de que naquele dia, naquele lugar conhecido, percebia
Ser o momento que mais me pertencia.
E fui. Os joelhos tremendo de temor
Com receio de ela ser o negrume que se dizia.
Mais de perto voltei a olhá-la
Defronte.
E como pareceu que sempre conhecera
Aqueles ternos olhos bassos
Que me lembravam a inocência que perdera
E me mostravam que o nunca ter tido
Não era senão, o mais poder amar!
E parti, com a paz e conforto
Do nunca mais ter que sentir o não sentir
E a dor podre que o era ter.

Catherine Vesnais

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