Depois da surpreendente abertura das Olimpíadas de Pequim, que tanto inebriou os mais vibrantes espíritos, cedo percebemos que, não obstante o brilhantismo e carácter exímio do evento, a superar de longe a cerimónia de Atenas, tudo mais não era que fachada. Desde os efeitos digitais, às ilegalidades da inclusão de atletas ginastas chinesas na competição, com idades inferiores às permitidas, parece que a mais chocante notícia foi a da 'pequena' que por ter os dentes tortos foi reputada de "bruxa-má-com-verruga-no-nariz", demasiado feia para a sua voz angelical, demasiado pouco perfeita para ser o símbolo de Pequim 08.
Por favor. Onde é que isto já se viu? Acho que nem os USA nos anos 30 desceram a manobras de "estirpe" tão reles para 'mundo ver'. Num dos eventos que mais tem marcado a História moderna pelo seu apelo ao mais puro humanismo e à união dos povos pela elevação humana mediante a força do corpo e o poder do espírito, a prova da clareza e da honestidade cai por terra de uma forma que, no mínimo, se pode dizer triste. Muito triste. Corrobora-se a tese de que em grandes momentos o que melhor se pode constatar é o cariz degradante a que a sociedade contemporânea chegou, preterindo a beleza artificial à limpidez e àquilo que de melhor existe no Homem. Nietzsche, parece que o teu super-homem chegou, mas nem um Anticristo de jeito trouxe para criar um nihil a sério. De entre os meandros da guerra política do Cáucaso, acho que mais grave que os conflitos pela autonomia das nações pulverizadas, está o baixo nível a que se chegou em prol de uma perfeição mecanizada aparente. E isto é coisa que, infelizmente, nem Agosto consegue apagar.
Acho que destes últimos tempos, a única coisa que por aí corre que deixe um laivo de jovialidade na cara de alguém são as vitórias do Phelps e ouvir dizer que uma das músicas de topo do Obama é o I'm on Fire. Obrigada Springsteen.
3 comentários:
Isto podia ter sido escrito pelo joão lopes. Tenho lido os artigos dele no DN sobre pequim, e conhecendo-o como conheço do blog sound mais vision, é chapado. Devias ler as análises que ele faz de fotos tiradas nestes jogos olímpicos, aquilo é lindo.
Ah, opinião parva:
Gosto da maneira como, talvez inconscientemente, jogas com a linha do pretensiosismo nas referências que fazes e linguagem que usas, nunca chegando a ultrapassá-la com mais que o dedo grande do pé direito.
Gosto dessa bajulação simpática ( e o meu dedo grande do pé é pequenino tá?)
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